Novela: a nacionalidade importa?
Vejo novelas desde menina. Comecei com as clássicas mexicanas - sim, na época meus pais consideravam as novelas de outras emissoras (leia-se Globo e extinta TV Manchete) “fortes demais”; hoje sei que eles não estavam exagerando (risos). Cuidado com o que os filhos assistem na tv não é bobagem nem caretice, mesmo que hoje muitas crianças vejam coisas absurdas. Mas, enfim, vamos retomar o tema deste post, desculpem a divagação momentânea. Como dizia, a telenovela entrou na minha vida cedo. Não me lembro ao certo quantos anos eu tinha quando vi “Chispita” pela primeira vez, mas me recordo de ter uns 10 anos quando vi “Carrossel” - a versão mexicana original, lançamento inédito, à época, no SBT. A partir daí, o produto novela foi me conquistando... as histórias, a forma de contá-las.
Sempre amei histórias. Histórias boas, bem contadas. E, claro, o mundo das novelas traz uma certa magia que torna isso muito peculiar. Numa novela há diversos elementos que colaboram para a singularidade do seu encantamento: a música (não apenas os temas cantados, mas o instrumental que toca ao fundo de cada cena - mas isto é material para um outro texto que ainda escreverei dia desses), os figurinos, os cenários (sejam reais ou montados). É um conjunto de fatores que, quanto melhor administrados, melhor resultam em sucesso.
Claro que, alguns anos depois, a medida que fui amadurecendo, as novelinhas com tramas ingênuas já não exerciam o mesmo fascínio (embora permaneçam até hoje na minha memória afetiva e seja divertido revê-las de vez em quando), e descobri as novelas mais adultas, vamos assim dizer. Não sei ao certo qual foi a primeira novela nacional a que assisti, mas me lembro de algumas que me marcaram na adolescência, como foi o caso de "Éramos Seis" (SBT), “A Próxima Vítima” e “A Viagem” (Globo) - as duas últimas bem diferentes de tudo que eu já tinha visto até então.
Todos sabemos que a Rede Globo detém um know how indiscutível, adquirido com anos e anos de investimento em novelas. Tanto que elas se tornaram um dos grandes produtos criativos nacionais, tipo exportação - é seguro dizer que as novelas estão para o Brasil como as séries estão para os Estados Unidos. Não contesto que durante muito tempo a Globo reinou absoluta nesse ramo, embora meu coração sempre tenha batido forte pelas mexicanas. Aliás, abro mais um parênteses aqui para os curiosos: caso ainda não saibam, a maior produtora de telenovelas no mundo não é a “Vênus Platinada”, mas a Televisa (a Globo do México), a que mais produz e mais exporta.
Bem, voltando ao tema deste texto: independente se você gosta mais de novela nacional ou importada, fato é que, para quem realmente gosta de novela e curte uma boa história acima de qualquer coisa, a origem não importa. Ainda existe quem torça o nariz para as mexicanas aqui no Brasil, embora nos últimos anos tenha caído bastante o ‘pré-conceito’ contra elas e se tornado até uma certa moda ostentar que você as curte e comentá-las nas redes sociais.
Voltando à minha trajetória com as novelas, depois de descobrir as mexicanas e, logo depois, as brasileiras, não parei mais. Já mais velha, passei a conhecer novelas de outras nacionalidades e já posso dizer que assisti e gostei de tramas portuguesas e até turcas. Sim, estas últimas estão na moda agora no país. A Bandeirantes (Band) inaugurou um horário de novelas com a exitosa “Mil e Uma Noites”, que, confesso, não acompanhei, mas sei que ela fez e tem feito muito sucesso na América Latina, foi vendida para vários países, e aqui no Brasil causou furor. Muita gente gostou, elogiou, acompanhou e recomendou. Embora eu não tenha acompanhado essa trama, estou agora a ver “Fatmagul: A Força do Amor” e posso deduzir que sua antecessora deve mesmo ser muito boa, aliás, as produções turcas não deixam nada a desejar às famosas globais em termos de qualidade, posso atestar; e em termos de história (enredo), me parece que são até melhores do que as atuais nacionais - antes que os fãs das novelas globais me apedrejem, deixem-me explicar: nos últimos anos a Globo vem ficando cada vez mais carente de bons autores. Antes, as novelas tinham começo, meio e fim e faziam sentido durante todo esse caminho. Hoje, não sei bem o que acontece, mas os autores já não conseguem fazer obras que encantem o telespectador como antigamente. Até por isso houve (e ainda está havendo) uma migração para outras emissoras, que oferecem material também de boa qualidade e para um público diferenciado - o SBT tem se dado muito bem com suas produções infanto-juvenis, embora sejam remakes nacionais de grande produções mexicanas (para verem a força da Televisa e seu material até hoje entre nós) e com as reprises de novelas mexicanas adultas às tardes, tanto que já começaram a exibir muitas inéditas com grande sucesso (ainda acho que deveriam abrir espaço para essas tramas importadas inéditas à noite); a Record, depois de anos patinando em sua teledramaturgia, finalmente conseguiu destaque apostando no que faz de melhor: adaptação bíblica (tratarei desse fenômeno em artigo futuro); e a Band veio com as até então inéditas produções da Turquia, que surpreenderam muito positivamente pela qualidade. Ora, público carente ou insatisfeito migra mesmo, e depois de anos, finalmente os noveleiros têm opções. Variadas. E boas. Então, não é de se estranhar que a Globo tenha agora que dividir uma fatia do bolo de audiência com suas concorrentes. É até muito bom e saudável, a competição deve existir e é ela que proporciona variedade e opção ao telespectador.
O ponto aqui é: não importa se a novela é nacional ou estrangeira. A história é boa? Agrada o público? Tem bons atores, eles são cativantes? A produção é bem feita? São as respostas a estas perguntas que importam.
Numa produção nacional, nos identificamos; vemos nossa imagem refletida no espelho, as idiossincrasias de nosso povo, mesmo aquilo que abominamos e, infelizmente, existe no seio da nossa sociedade, lá estará exposto, abrindo campo para reflexão e discussão. Numa produção estrangeira, temos a chance de viajar sem sair do sofá, de conhecer uma cultura diferente, hábitos e costumes que não os nossos, mas, nem por isso, são piores ou melhores, depende do ponto de vista.
Para mim, novela é como música: quando é boa, não importa de onde vem. Música e novela boa não têm fronteiras.
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