Review - Fatmagul: O Grande Final

Será que algum dia superaremos esse final? Essa novela? Esses grandes intérpretes e todos os momentos emocionantes que eles nos transmitiram? Essa produção impecável? Muito provavelmente não. Ainda bem!

"Fatmagul" é dessas novelas que entram no coração e na memória de quem assiste. E deixou sua marca, com certeza. Já recapitulamos um pouco das grandes emoções vividas na reta final da história, e, agora, nos dedicamos ao gran finale.



O FIM NO PRINCÍPIO

A Band dividiu o último capítulo de "Fatmagul" em vários. E ainda cortou algumas cenas que seriam "detalhes" importantes e fariam todo o sentido hoje para o telespectador, possibilitando uma conexão de sentido com o que foi apresentado e desenvolvido ao longo da novela. Uma pena.

Algumas pessoas também não entenderam ou não tiveram paciência com esses flashbacks finais, mas é preciso dizer que eles eram absolutamente necessários e não foram meros flashbacks... foram uma verdadeira volta no tempo com cenas inéditas, não para enrolar, mas para deixar claro muita coisa, e instigar a reflexão.

Um final inteligentíssimo, diferente do que estamos acostumados a ver nas nossas novelas latino-americanas, que sempre terminam com um casamento no último capítulo (clichezão!). A proposta de "Fatmagul", no entanto, foi ser mais esclarecedora do que inovadora. Mas acabou jogando com inteligência suas últimas cartas. E o resultado foi brilhante justamente pela simplicidade em si, usada de maneira magistral. 

Enquanto Fatmagul estava acompanhando o julgamento de seu caso, a espera do veredito de seus inimigos, retornamos no tempo com ela e com todos os personagens vivos e os que já se foram também. 


Nesse retorno, ficou claro quem era quem desde o princípio. É exatamente como na vida real: ninguém é absolutamente uma coisa ou outra, bom ou mau, preto no branco, mas as pessoas apresentam tendências, virtudes e qualidades que fatalmente vão influenciar seu futuro. Cada um escolhe seu caminho, mas tem que lidar com as consequências independente de sua vontade. 

Mustafá foi mostrado como sempre foi (e já o era nos primeiros capítulos, para quem prestou bem atenção em seu comportamento mesmo antes de abandonar Fatmagul à própria sorte); ele sempre teve ambição, o que não é ruim se for bem dosado e utilizado, mas não foi o caso dele; sem falar que ele sempre foi possessivo e machista. 


Musta julgava que a mulher tinha que servi-lo, devotar-se a ele e à casa, nada mais. Tivesse se casado com ele e Fatinha não teria terminado os estudos, aprendido a dirigir... abrir o próprio negócio, então, nem pensar! De acordo com as ideias do Mustafá ela tinha que servir comida só a ele e na casa deles. Sem falar que ela teria que ficar a maior parte do tempo sozinha, pois ele iria para as viagens em alto mar e, claro, não ia abrir mão de um cobertor de orelha nas noites frias. Para não dizer que Fat não teria evoluído como pessoa e emocionalmente ao lado desse homem. No começo, Mustafá não era mau caráter, mas ele também não era o homem certo para Fatmagul. E foi isso o que a volta ao início da história comprovou e muito bem comprovado.


O AMOR MOVE MONTANHAS
E A INVEJA TAMBÉM

O gatilho de tudo o que ocorreu a partir daquela trágica noite foi a inveja. O despeito. Elementos que estiveram presentes ao longo de toda a novela, em diferentes personagens como Mukaddes e Erdogan. Este último foi o provocador, o acionador da bomba, por assim dizer. 


Sempre teve inveja do primo, Selim, que era um bom vivã nada responsável, mas, mesmo assim, tinha tudo e era tratado como um principezinho. 


Vendo o pai, Rifat, ser menosprezado e humilhado pelo tio, Resat, Erdogan tinha todos os motivos para guardar mágoa dos parentes. 


Então, um belo dia, ele resolveu que ia se vingar de tudo isso com um plano até simples em sua elaboração... simplesmente comprando algumas drogas. 


Conhecendo Selim, sabendo que o primo era um bobo facilmente manipulável, qual era a do Erdogan? Deixar o priminho chapado bem na noite do noivado e saírem por aí, em busca de alguma confusão que causasse escândalo e horror ao papai orgulhoso do filhote, o Resat Yasaran. O que nem mesmo Erdogan esperava que acontecesse, porém, era a coisa fugir ao seu controle. Mas o que ele esperava? Também com droga na cabeça, tava na cara que não ia prestar.


Foi assim que, reunido com os amigos, Erdogan deu o primeiro passo rumo ao precipício e levou todos juntos com ele. Foi o primeiro a atacar a indefesa Fatmagul e instigar os demais a fazerem o mesmo. Tá certo, ninguém foi obrigado a também violentá-la, Selim e Vural fizeram o mesmo na sequência porque quiseram, mas se Erdogan não tivesse sido o primeiro, talvez esses outros nem tivessem tentado.

Bem, e onde fica Kerim nessa história? A culpa também foi dele? Deveria ser dividida, portanto, e ele condenado como os demais? O papel do protagonista não é tão simples quanto pode parecer. Ele, de fato, não abusou fisicamente de Fatmagul. Ele, inclusive, olhou horrorizado o que os outros amigos estavam fazendo com a moça, mas seu sistema estava nublado pela mistura de álcool e droga que não conseguiu fazer nada. Acabou passando mal e perdendo os sentidos. Isso as primeiras cenas da novela (e não os flashbacks) mostraram direitinho.


Fato é que, se não atacou, também não ajudou a vítima de um crime. Seria ele, então, culpado? Esta é uma questão que exige uma boa reflexão. Vimos que o próprio Kerim, mesmo tendo sido perdoado por Fatmagul, teve a maior dificuldade em perdoar a si mesmo. Ele também se culpava por não ter evitado o que aconteceu com ela. Mas, vendo as cenas do último capítulo e a volta no tempo, precisamos nos atentar para um detalhe que pode fazer toda a diferença: se Kerim não tivesse apontado Fatmagul para os outros, quem garante que um deles não poderia tê-la visto depois, mesmo assim? E, se fosse esse o caso, o crime teria acontecido do mesmo jeito. 


Não se pode exigir do Kerim uma reação na tentativa de impedir o ataque se fisicamente ele não tinha forças no momento para isso, nem mentalmente. Por mais que quisesse, ele estava lidando com forças alheias a sua vontade, é por isso que drogas ilícitas são chamadas de entorpecentes - elas entorpecem, nublam os sentidos e as reações normais de uma pessoa. Você não é você mesmo quando sob efeito de drogas, por vezes até excesso de álcool causa isso. E não nos esqueçamos: o Kerim não era usuário de nada, seu organismo não tinha costume com a substância. Então o efeito da droga no sistema dele deve ser potencializado, especialmente com a mistura do álcool.

De modo que culpá-lo não resolveria nada. Ele se omitiu, mas por não ter como reagir de modo distinto. Isso foi muito bem explicado na sentença do juiz que o absolveu - não se pode exigir um comportamento diferente do que a pessoa conseguiria ter fisicamente falando. Mas, para além disso, foi graças ao Kerim que o processo que levou os estupradores à prisão teve início. Foi graças ao Kerim que Fatmagul teve coragem e força para avançar na busca por justiça. Então, de alguma forma, ele se redimiu. Sem contar que deu à ela tudo o que estava a seu alcance para fazê-la superar o trauma e vê-la feliz: incentivou-a nos estudos, ensinou-a a dirigir, estimulou-a a abrir o próprio negócio, construiu uma casa para ela... mais do que isso, construiu um lar. E uma vida nova. Para os dois. 

Bem, para os que mesmo assim não ficaram satisfeitos com a absolvição do Kerim, lembremos de que ele amargou uns bons meses na prisão (e injustamente!) pela morte do Vural até que tudo se esclarecesse.


Por falar em Vural, este pagou com a própria vida por seus erros. Antes, amargou numa depressão profunda, mas pelo menos teve um fio de consciência capaz de revelar a verdade à Kerim, a de que ele não atacou Fatmagul naquela noite e de todos, foi o único que não fez mal a ela. 


Já Erdogan e Selim não foram mais felizes desde aquela noite trágica. Suas vidas andaram para trás, sempre perseguidos por suas armações e mentiras. E, no final, depois de amargarem uma estadia breve na prisão e uns bons meses vivendo como foragidos e comendo o pão que o gato amassou (sorry, não resistimos à piadinha infame xD ), perderam, enfim, a liberdade e a juventude, condenados a longos anos de cadeia (o Edroguinha um pouco mais, merecidamente).




Todos que tiveram participação no sofrimento de Fatmagul e dela tripudiaram, tiveram o merecido. Resat, depois de perder fortuna, prestígio e saúde, perdeu também a liberdade por alguns anos. Para alguém na situação dele, podemos imaginar que deliciosa aposentadoria no xadrez. 


Munir também foi condenado à prisão e com um agravante: ser processado pela Ordem dos Advogados da Turquia e perder o direito de exercer a profissão, uma ótima lição para o advogado trapaceiro. 


E até a Mukaddes, que tentou tirar vantagem do sofrimento da cunhada e a atormentou do início ao fim, foi condenada a uma pena mínima, convertida em multa. Vai ter que trabalhar para dar o que ela mais preza: dindin $. 


Para quem achou pouco, lembrem-se de que ela foi afastada da família, voltou para o interior e vai ter que pegar no pesado criando os filhos, tomando conta da casa e ajudando Rahmi no negócio de laticínios sem a ajuda de ninguém #MUAHAHA! Sem falar que, para alguém como ela, a pior pena é esta: invejou, invejou e não conseguiu nada do que queria, o marido ainda ganhou alguma autoridade sobre ela e a recalcada perdeu a platéia para dar seus espetáculos e fazer suas fofocas e intrigas. O pior castigo da Mukaddes é ser ela mesma.

E A JUSTIÇA VENCEU


Sim. Depois de muita luta, depois de muito sofrimento, de muitos obstáculos (e de chorar e chorar), a justiça prevaleceu, fazendo valer aquele ditado de que ela tarda mas não falha. Para Fatinha não falhou. Graças a ela própria e seus esforços em superar e lutar, e graças ao apoio que recebeu de todas as pessoas que entraram em seu caminho para somar: Kerim, Meryen, Kadir, Omer, Fahrettin. Fatmagul venceu. Todos venceram. A justiça venceu.


E, como não podia deixar de ser, a história de Fatmagul foi publicada no livro que a jornalista Sinem certamente finalizou com chave de ouro e serviu de estímulo para as mulheres turcas da ficção e para todas as mulheres da vida real a fim de que não se calem, não deixem de lutar quando for preciso. Seja em casos mais graves, como os de violência sexual, como em todos os casos de injustiça. E não só as mulheres. Todos os seres humanos, homens e mulheres, até porque, uns não existiriam sem os outros. A luta por justiça deve ser compartilhada por todos, como foi por Fatmagul e Kerim e seus aliados.


DO QUE SENTIMOS FALTA NO ÚLTIMO CAPÍTULO

Do Sr. Farehttin e família (cadê Escravo Mehmet ganhando o coração da Deniz e entrando para a família oficialmente?!) e de vermos a carinha da pequena Enise Ilgaz. 

Bom, tudo isso ficou para a nossa imaginação. Quis o autor fechar as cortinas depois do julgamento como na vida real, como se o amanhã fosse mais um dia das vidas dos personagens que seguem em frente. 




MOMENTOS PERDIDOS

Não sabemos se a Band cortou alguns momentos do capítulo final por achar que eram desnecessários, mas eram cenas importantes para completar a nossa compreensão da novela - até por isso foi que o autor voltou ao início, rememorando tudo com cenas que não foram ao ar nos primeiros capítulos propositalmente. Como a cena que mostra Erdogan comprando drogas e planejando estragar a noite do noivado de Selim. 


Ou quando Vural, apesar de ter tudo na vida, confessa a Kerim que às vezes se sentia deprimido (o que reforça que o episódio do estupro foi o gatilho que faltava para que ele mergulhasse de vez na depressão). 


Ou os quatro amigos se drogando e bem loucos antes de deixarem a casa dos Yasarans de carro. 


Ou, ainda, o aparente banal destaque que a lembrancinha do noivado de Meltem teve nessa volta ao começo... 


A pulseirinha vermelha com um olho turco foi dada como um amuleto para as moças serem felizes no amor. Se repararam bem, logo depois que uma funcionária da festa consegue uma pulseira que sobrou e a entrega à Fatmagul, ela a coloca no pulso e, em seguida, Kerim aparece atrás dela, perguntando seu nome antes de serem flagrados por Mustafá. 


O que a Band cortou foi a referência posterior feita a essa pulseirinha. Depois, de ser violentada, quando Fatmagul é socorrida e ninguém sabe quem é ela para avisar sua família do ocorrido, Meryen (que é quem a encontra na manhã seguinte naquele lugar ermo enquanto colhia ervas medicinais) nota a pulseirinha no braço dela e se dá conta de que ela estava trabalhando na festa dos Yasarans. Bom, depois a pulseirinha se perde, mas a ideia que trouxe consigo prevaleceu: Fatmagul foi feliz no amor.


Foi como fechar um ciclo voltando ao começo. Um toque genial justamente por ser tão simples e nunca pensado antes por outras telenovelas. Assim, fechou-se o ciclo de "Fatmagul". Uma novela que, também voltando ao início mas deste post, vai ficar na memória e no coração de quem acompanhou.

Bem, ficamos por aqui. Mas nossas postagens sobre Fátima Rosa e Cia ainda não acabaram! Nosso próximo post será dedicado ao delicioso recheio dessa receita de sucesso que foi "Fatmagul"... Kerim&Fat <3 Até lá!



Imagens retiradas do twitter

Comentários

  1. oie amei suas reviews de fatmagul, muito bem escrita e pra quem não assistiu a novela como eu, tá sendo de grande ajuda, vou assistir agora em parte por vc ter despertado minha curiosidade. muito obg

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  2. Estou amando Fatmagul .A Globoplay fez uma ótima aquisição.
    Comecei a gostar das turcas com Ezel através do YouTube. Depois procurei mais turcas e achei Uma Vida nova na Globoplay e agora a Fatmagul.Espero mais turcas em breve.Kara SEVDA , única turca a ganhar o Emmy...E outras turcas boas.Aguardo.

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    1. Eu também estou amando assistir fatmagul,apesar de não entender alguns cortes que comprometem a trama.

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  3. Fatimagul é bem bacana, mas já estou odiando a música do início e final dos epsódios....

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  4. Acabei de ver toda a novela pelo globoplay. Melhor coisa que eu fiz. Eu amei essa novela, ri e chorei muito com a história da fatmagul. Penso da mesma forma em relação ao Mustafá, a fatmagul seria mais uma mulher presa ao Mustafá, ela não seria feliz ao lado dele como era ao lado do kerim.

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